No ano em que o Brasil se consolidou como a segunda maior potência esportiva das Américas, uma modalidade em especial chamou atenção do grande público: o beisebol.

Os motivos são diversos e vão desde a simpática comoção digital em volta da progressão de bons resultados até as expressivas conquistas recentes, como a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos e o prêmio de Melhor Equipe Masculina de 2024, laureada durante o Prêmio Brasil Olímpico.

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Em meio à notória falta de recursos e à sombra de modalidades com maiores aportes e tradição em nosso país, o beisebol brasileiro tece uma história de luta e resiliência.

Longe dos holofotes e vivendo jornada dupla entre treinamentos e uma vida profissional paralela, nossos atletas enfrentam desafios consideráveis, desde a falta de materiais adequados para a prática em alto nível e até mesmo o principal para prática do esporte: campos com metragens oficiais e equipamentos básicos.

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Ainda assim, é neste contexto desafiador que o Brasil se destaca como um notável exportador de talentos para ligas e universidades internacionais, construindo uma narrativa de superação que transcende as limitações do esporte em solo nacional.

Enquanto o beisebol brasileiro enfrenta desafios financeiros, a Major League Baseball (MLB) emerge como uma verdadeira potência econômica, superando com folga outras ligas esportivas de renome mundial.

De acordo com dados do relatório anual de receitas esportivas da Forbes, a MLB não apenas figura no top 3 ao lado de NFL e NBA, mas também supera de maneira impressionante o faturamento anual de gigantes como Premier League, Inglaterra, e da UEFA Champions League.

💰 Receitas geradas em 2022:

⚾ MLB - US$ 10,7 bilhões
⚽ Premier League - US$ 7,2 bilhões
⚽ Champions League - US$ 3,6 bilhões

Esses números não apenas reforçam a magnitude econômica da MLB, mas também destacam a disparidade financeira que coloca o beisebol no epicentro dos negócios esportivos globais. Uma prova é o suntuoso acordo assinado entre Los Angeles Dodgers e Shohei Ohtani, cujos valores impressionaram o mundo e tomaram o topo da lista de maiores contratos da história do esporte.

Para entender melhor o cenário global e nacional do beisebol, o Lance! Biz entrevistou André Rienzo - primeiro arremessador brasileiro a alcançar a estrelada liga norte americana, sucesso em múltiplas ligas profissionais ao redor do mundo e um dos principais nomes da história recente do esporte.

Com a sensação de missão cumprida após anos defendendo a Seleção Brasileira, ele anunciou sua aposentadoria da amarelinha após o Pan de Santiago. A partir de agora, sua carreira tende a tomar rumos diferentes e com um drive voltado para a área de negócios.

L!: Como você define o atual cenário do beisebol brasileiro? Existe alguma similaridade ou nuance a aprender com ligas e países dos quais você já tenha atuado?

A busca pelo esporte tem aumentado muito, assim como o número de praticantes e acredito que depois dessa conquista histórica no Pan de Santiago vamos ter mais interesse pela modalidade, principalmente por parte dos jovens. O Brasil tem que mudar algumas coisas, ainda estamos seguindo processos de treinos e ensinamentos iguais aos de vinte anos atrás. Buscamos resultados diferentes sem mudar os ensinamentos, mas tenho certeza que com a chegada de algumas parcerias no Brasil algumas coisas vão mudar.
—André Rienzo, jogador de beisebol brasileiro

L!: Quando falamos de Major League Baseball para o público brasileiro, fatalmente associamos a filmes, camisas, bonés, estádios enormes… Como você define a MLB em termos de gestão e o que o beisebol brasileiro pode aprender e aplicar nacionalmente para seguir minimamente os passos de uma das ligas mais poderosas do mundo?

RIENZO: A Major League Baseball e a prática do beisebol lá fora são tão populares quanto o nosso futebol aqui no Brasil. O que chega sobre eles aqui no Brasil faz a gente enxergar de outra forma, acho que por isso o brasileiro ainda não conhece o real tamanho e alcance do esporte e da liga.

A gestão deles é fantástica, tanto que eles são o maior mercado de beisebol do mundo e uma das ligas que mais movimenta dinheiro entre todos os esportes, mas eles visam algo além do esporte, não só grana ou números, mas também uma qualidade de vida melhor para a família dos jogadores e dos profissionais que movimentam o esporte, boas condições de trabalho, conhecimento, estudo dentro e fora do campo, alto nível de educação.

André Rienzo em ação com a camisa da Seleção Brasileira de beisebol (Foto: Carol Coelho)


L!: Após vários anos atuando em franquias americanas, sua relação com a liga ainda é próxima? Existe o papel de “embaixador”, como acontece com grandes nomes do futebol ou basquete, por exemplo?

Existe um interesse bem grande da MLB em olhar com mais carinho para o Brasil e iniciar uma operação mais próxima. Eles me convidaram para fazer parte de alguns projetos, mas ainda nada que possa detalhar muito. Se de fato acontecer, nosso esporte vai crescer e muito!
—André Rienzo, jogador de beisebol brasileiro

L!: A MLB é conhecida por desenvolver o beisebol em mercados de grande potencial, seja no consumo de mídia e merchandising ou na formação de jovens jogadores a serem negociados com as franquias, correto? Existe alguma ligação da Major League Baseball com o Brasil?

RIENZO: A MLB já esteve no Brasil anteriormente, mas por conta da pandemia e todas as complicações que o esporte sofreu no período, essa parceria foi obrigada a sofrer uma pausa que segue até o momento. Existe sim a intenção deles voltarem a explorar o mercado brasileiro. O que a gente não pode deixar de lembrar é eles querem desenvolver talentos para um nível alto do esporte e isso é uma coisa que o Brasil ainda não entendeu. Eles não estão de olho no nosso mercado e investindo simplesmente porque acharam o Brasil bonito e cheio de gente legal. Eles estão investindo porque acreditam e já viram inúmeros casos de que existe muito potencial de qualidade e atletas alto nível por aqui.

L!: No Lance! Biz falamos de negócios, estratégias, receita e tudo o que permeia dinheiro ao redor do esporte. Qual o seu envolvimento no mundo dos negócios? Alguma predileção por determinado tipo de investimento ou negócio próprio?

RIENZO: Eu sempre fui um cara com a cabeça e o pensamento no futuro, então já tem muito tempo que invisto quase meu dinheiro total em bens e empresas do Brasil junto ao meu irmão, mas nada ligado ao beisebol. Sempre vou atrás de dados, tendências e casos de sucesso, então depois de muito conversar, estudar e colher referências, recentemente abrimos um complexo de beach tênis em Bragança Paulista. Minhas opções de investimento ou visão de negócios não tem nada a ver com o meu esporte nativo, mas sim em oportunidades de alta escalabilidade, produtos de alto giro, bens de consumo, um olho sempre na parte digital e de mídia, algumas portas envolvendo ESG e por aí vai.

O mais importante é encontrar o balanço entre os bons frutos da parte financeira e tomar cuidado com os riscos de hoje em dia. Tenho estudado muito e investido também na Bolsa de Valores, mas essa parte já é uma aventura solo minha. O beisebol e a postura de atleta me deram isso: nunca me acomodar e sempre ir atrás de mais, mas de uma forma inteligente e bem preparada.

André Rienzo foi o primeiro arremessador brasileiro na MLB (Foto: Natan Pires)


L!: O anúncio da sua aposentadoria atuando pela seleção após a histórica campanha nos Jogos Pan-Americanos de 2023 marca o fim de uma era, mas o início de uma nova fase da sua caminhada. Quais os planos para a sua carreira extra campo?

RIENZO: Já vesti a amarelinha por muito tempo, agora chegou a hora de focar um pouco mais em mim e na minha família. Tenho certeza que a nossa era foi a melhor de todos os tempos dentro do beisebol nacional e conquistamos coisas jamais conquistadas antes, agora eu vou focar em novas aventuras que estão aparecendo. Recentemente fechei uma parceria com o pessoal do “Project Baseball”, um projeto mundial formado por grandes nomes do beisebol internacional, envolve embaixada dos EUA, nomes de sucesso da MLB e que visa desenvolver o esporte em mercados que precisam de apoio.

Sou o coordenador operacional e embaixador do território brasileiro. Estamos na torcida para que a cereja do bolo possa ser uma futura parceria com a Major League com uma presença fixa aqui no Brasil, onde eu também seria o encarregado, tentando fazer nosso beisebol estourar de uma vez por todas no território nacional, espalhando boas práticas do esporte pelo país inteiro, gerando oportunidades, empregos e uma vislumbre bem legal pro futuro.

L!: Em termos de negócios, gestão e estratégias, o que o beisebol brasileiro pode melhorar e implementar para que o futuro seja cada vez mais profissionalizado e minimamente similar às ligas internacionais?

RIENZO: Na minha sincera opinião, sair um pouco da “bolha” atual, explorar novos desafios internos para fazer com que o esporte cresça cada vez mais. É preciso mudar um pouco a cultura, explorar novos conhecimentos e trazer para o Brasil. Para ter resultados diferentes, é preciso fazer coisas diferentes.

L!: Qual o seu grande e maior sonho para o futuro do beisebol no Brasil?

RIENZO: Mostrar para o mundo que temos um talento incrível aqui e ter uma liga profissional no Brasil. Quero que os atletas possam se dedicar ao esporte de segunda a sexta, não só de sábado e domingo, assim nosso nível como um todo com certeza vai melhorar. E ter mais atletas no beisebol do exterior tentando realizar o sonho de chegar na MLB.

L!: Alguma mensagem especial, de incentivo ou recado que você queira direcionar ao público que gosta e acompanha o esporte?

RIENZO: Quero incentivar e convidar a todos a conhecerem mais sobre o esporte. Pesquisem mais, procurem lugares para praticar e se aventurem nessa modalidade maravilhosa. A minha paixão começou depois de um contato mínimo quando eu era criança. Por que a sua ou a do seu filho ou filha também não pode ser assim?