Coluna: ‘Just leave it to me, just leave it to me (Max Verstappen)’
'O que vimos no GP da Emilia-Romagna foi a predominância absoluta da Red Bull, que cravou vitória na sprint race, melhor volta e dobradinha na corrida'
No GP da Emilia-Romagna (disputado a apenas 80 km da sede da Ferrari em Maranello) tivemos a Ferrari nos três lugares mais altos do pódio: o espumante Ferrari (de qualidade duvidosa, segundo meus amigos enochatos, feito da uva chardonay em Trentino desde 1902). Tirante a representação etílica, nada de Ferrari em Imola.
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O que vimos foi a predominância absoluta da Red Bull, que cravou vitória na sprint race, melhor volta e dobradinha na corrida. Max Verstappen colheu o máximo de pontos possíveis no fim de semana: 34 (25 na corrida, 8 na sprint race e 1 da melhor volta). Fez o chamado Grand Chelem (pole, melhor volta, liderança em todas as voltas e vitória), diminuindo bastante a vantagem de Charles Leclerc no Mundial de pilotos.
O final de semana começou animado, com chuva e uma classificação conturbada na sexta-feira, interrompida cinco vezes por bandeira vermelha. Desde o Japão em 2012, duas Mercedes não ficavam fora do Q2. E, novamente, Verstappen fez a diferença no rápido circuito de Imola ao cravar a pole, ainda que beneficiado pela batida de Lando Norris que antecipou o fim do Q3.
No sábado, tivemos uma empolgante sprint race – agora, além de definir o lugar no grid, ela dá oito pontos para o vencedor, laureando até o 8º colocado. O antigo circuito de Imola é do tipo “raiz”, bastante estreito, possibilitando pegas acirrados. E tudo isso embalado pelo som da inconfundível torcida da Ferrari. Os Tifosi celebravam como um gol cada ultrapassagem dos carros vermelhos, coisa bonita de se ver, - embora no finalzinho, Leclerc tenha sido ultrapassado por Verstappen, que assegurava assim a pole para domingo.
Apesar da expectativa, a chuva, infelizmente (para nós), cessou e no domingo o tempo abriu em Imola. A largada já se deu sob tempo bom, a despeito da pista molhada. Logo na primeira curva, safety car por conta da batida entre Daniel Ricciardo (que, elegantemente, após o final da corrida pediu desculpas pelo acidente) e Carlos Sainz, que tirou o espanhol da prova. Sainz, que acaba de renovar contrato com a Ferrari até 2024, parece viver seu inferno astral: bateu no treino de sexta e não conseguiu sequer completar a primeira volta na corrida (lembrando que na Austrália ele abandonou na 3ª volta). O espanhol precisa de resultados para evitar a consolidação do papel de segundo piloto, mas esquece a velha máxima das corridas: para chegar em primeiro, primeiro é preciso chegar.
Após o enrosco inicial, testemunhamos uma corrida sem grandes emoções, por conta das condições meteorológicas. Apesar da chuva ter parado, a temperatura de 16 graus fez a pista secar lentamente, formando-se apenas um trilho seco. Como andar fora do trilho significava perda de aderência e já que a pista é bem estreita, na maior parte do tempo a corrida seguiu no estilo procissão.
Na 40ª volta, a flecha prateada 44 de Lewis Hamilton ficou lado a lado com o Touro Vermelho de Verstappen, cena que vimos frequentemente no ano passado. Só que desta vez, o heptacampeão recebeu a humilhante bandeira azul, que traduz a informação de que ele era um retardatário.
Não podemos dizer que as Mercedes andaram mal, porque George Russel deu um show – logo na largada ultrapassou cinco carros - terminando em 4º lugar. Russel ocupa agora a quarta posição no mundial, tendo pontuado em todas as provas. Enquanto isso, um melancólico Hamilton passou quase toda prova tentando ultrapassar Pierre Gasly - e não conseguiu.
O que houve com Hamilton? Eu não compro a tese de que ele está desmotivado, pois um atleta de seu nível é “automotivável”. Agora, não é impossível que ele não queira tomar riscos desnecessários e andar mais que o carro. A prova disso foi que perseguiu Gasly durante toda a corrida, mas sem dar o bote. Tudo muito curioso, inclusive o radio de Toto Wolf ao final da prova. Com sua voz de barítono e pinta de gala de quermesse, o chefão da Mercedes pediu desculpas por entregar um carro “undriveable”.
O final de semana foi de decepção para os donos da casa. Logo após um pit stop derradeiro, Leclerc rodou na Variante Alta na 53ª volta, jogando fora seu pódio e amargando a 6ª posição.
Já alguns coadjuvantes merecem menção honrosa, como o pequenino Yuki Tsunoda, que levou a Alpha Tauri ao sétimo lugar, à frente de seu companheiro de equipe. Destaque também para Valteri Bottas, que chegou em quinto. Será que Bottas está triste por ter sido demitido da Mercedes? Como dizia Santa Teresa D'Ávila: “Há mais lágrimas no céu derramadas pelas preces atendidas do que pelas não atendidas”.
Além disso, não há como deixar de mencionar o consistente Lando Norris, que beliscou um pódio e, hoje, já tem quase o triplo de pontos que seu companheiro de equipe, Daniel Ricciardo.
O saldo do final de semana é que Verstappen, mesmo diante de toda a torcida italiana, mostrou que a lã não pesa ao cordeiro: reduziu a diferença de Leclerc para 27 pontos, o que pode ser descontado, tranquilamente, no longo campeonato que temos pela frente. Verstappen não tem errado, pilotando num grau de concentração que beira a perfeição.
Como disse o holandês ao final da sprint race para Gianpiero Lambiase, seu engenheiro que tentava lhe passar informações: “No, no. Just leave it to me, just leave it to me.”