Eliminada na fase de grupos em 2014, nas oitavas na Euro 2016 e classificada para a Copa de 2018 apenas na repescagem, a Croácia não passa a confiança que deveria. Tirando os países campeões mundiais, poucos reúnem tanta qualidade em seu elenco quanto a seleção croata.
Naturalmente, o time pode ser construído a partir de Rakitic e Modric, uma excelente dupla de meio campistas, mas que ainda não encontrou o melhor ajuste na equipe. Em geral, Rakitic atua como um dos dois volantes, enquanto Modric tem mais liberdade para ser o "10" do 4-2-3-1. O complemento do trio central é uma das principais questões. Badelj, Kovacic e Brozovic oferecem características diferentes e impactam nas funções de Rakitic.
Para entender as transformações no processo, é importante lembrar que Ante Cacic, treinador na Euro 2016 e nas eliminatórias (demitido na penúltima rodada da fase de grupos), também utilizava o 4-2-3-1, mas com diferentes exigências individuais. Com ele, a Croácia geralmente tinha Badelj ao lado de Modric, e Rakitic como o meia adiantado. Ou seja: optava por uma peça de maior equilíbrio defensivo, contava com Modric para iniciar os momentos de posse de bola e tinha Rakitic mais próximo do ataque.
A sutil e radical mudança acontece com a chegada de Zlatko Dalic em outubro de 2017. A partir de então, Rakitic passa a ser o mais recuado dos três meio campistas, sempre se apresentando para o primeiro passe na saída de bola. Não é uma função nova para ele, já que eventualmente substitui Busquets no Barcelona, mas é uma faixa de campo bem diferente do restante do ciclo. Agora, é Modric quem atua em uma zona mais avançada do campo, mais próximo do terço final, ainda que circule para dar opção.
O grande ponto passa a ser o complemento. Brozovic fez boa temporada na Itália e parece a opção mais interessante. Com Cacic, o meia da Internazionale costumava partir da ponta para centralizar. Agora, vira um volante pela esquerda, que avança para dar opção de passe para Rakitic na saída de bola. Característica semelhante tem Kovacic, que poderia inclusive alternar a função com Rakitic, sendo uma peça a mais para iniciar a saída próximo dos zagueiros, mas com menor cuidado com as transições defensivas, pois muitas vezes arranca com a bola e não retorna para a posição.
Com qualidade para controlar por dentro, passa a ser chave acelerar pelos lados. O avanço dos laterais é frequente, até porque Dalic gosta de contar com a participação dos meias por dentro, mas é especialmente Vrsaljko quem tem o papel de gerar cruzamentos perigosos pela direita, compensando o movimento do meia que atua por aquele setor. Na esquerda, Perisic é a opção de velocidade e drible na ponta.
Outra questão a ser resolvida é a escolha do atacante. Mandzukic foi o 9 durante a maior parte do ciclo, mas seu crescimento como ponta com Allegri faz com que o jogador da Juventus vire opção na direita, abrindo espaço para Kalinic no comando de ataque. Outra alternativa é contar com Kramaric como mais um meia circulando nas costas dos volantes adversários, empurrando Mandzukic de volta para a referência.
Se o ponto forte da equipe claramente é o potencial com a bola, as dúvidas permanecem em relação a outra fase do jogo. E sem a bola? Diferentemente do Barcelona, em que Rakitic é parte importante de um comportamento agressivo para pressionar e recuperar a bola, a Croácia não tem a mesma reação e ainda leva um tempo considerável para se reorganizar. Como os dois laterais frequentemente sobem para abrir o campo, Mandzukic ataca a área e o outro meia tem liberdade para circular com Modric, as transições defensivas viram um problema. A indefinição faz com que exista espaço nas costas de Rakitic e Brozovic.
Pensando nisso, é possível que Dalic recorra a Badelj diante de alguns adversários ou em determinados cenários, preenchendo mais a entrada da própria área, como fez contra o Brasil em recente amistoso, quando também apresentou boa capacidade para pressionar a saída de bola adversária, fechando as opções de passe.
Na defesa, provavelmente Vida e Lovren formarão a dupla de zaga. O veterano Corluka é a primeira opção de banco e Duje Caleta-Car, destaque da temporada do Red Bull Salzburg, foi recompensado com uma vaga entre os 23. O maior risco é, em caso de imposição croata no campo de ataque, fazer com que a dupla fique exposta e precise compensar com longas coberturas. Além da alternativa com Badelj no meio, outra versão, ainda mais cautelosa, pode ter Vida na lateral, trocando Strinic por um zagueiro a mais fechando a primeira linha pelo lado esquerdo. Não é o elenco mais equilibrado, mas a qualidade reunida no centro do campo é suficiente para gerar cobranças por um bom papel na Copa do Mundo.
Jogos no Grupo D
16/6 - 16h - Croácia x Nigéria
21/6 - 15h - Argentina x Crpácia
26/6 - 15h - Islândia x Croácia