Copa Tática: A primeira vitória do Peru veio antes do Mundial

Liberação de Guerrero evitou a perda do ataque direto, o que tiraria ameaça ofensiva fundamental. Entre as menos badaladas, o Peru talvez seja quem mais evoluiu no ciclo

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O suspense durou até três semanas antes da Copa. A liberação de Paolo Guerrero foi tão esperada e comemorada quanto qualquer vitória recente da seleção peruana. Afinal, a suspensão teria enorme impacto para o país que volta a jogar um mundial após 36 anos.

A classificação do Peru foi a grande surpresa das eliminatórias sul-americanas, desbancando o rival Chile pelo saldo de gols. A seleção já tem sido um adversário competitivo em edições recentes da Copa América. Foram duas semifinais (em 2011 e 2015) e uma eliminação nas quartas de 2016, quando superou o Brasil na fase de grupos.

O trabalho de Gareca começou em 2015 e mostra surpreendente consistência. Com um elenco limitado e sem muitas referências atuando na Europa, o treinador conseguiu criar uma identidade coletiva bastante visível. O Peru é uma equipe organizada, que usa a força física para imprimir intensidade nos duelos e acionar a velocidade de seus pontas nas transições. E é exatamente no último ponto que a presença de Guerrero mais pesa.

Além da liderança, o atacante funciona como referência, não apenas técnica, mas também como alvo. O desafogo é a saída longa buscando o pivô do camisa 9, que tem facilidade para proteger de costas para a marcação, ganhar alguns segundos e conectar o ataque. Perder o ataque direto tiraria uma ameaça ofensiva fundamental do trabalho de Gareca.

Mas jogar sem Guerrero obrigou o treinador a buscar alternativas e o resultado foi uma interessante evolução na forma com que o time progride com a bola dominada. A melhor notícia que a temporada 2017/18 trouxe foi o resgate de outro veterano: Jefferson Farfán. Campeão russo com o Lokomotiv, o jogador de 33 anos foi o artilheiro do time e atuou como 9 na repescagem contra a Nova Zelândia e nos amistosos recentes.

Ponta durante a maior parte da carreira, Farfán sempre foi uma arma na velocidade conduzindo a bola e nos dribles. Ter atuado centralizado na Premier League russa já adiantou o processo de adaptação. Com Farfán por dentro, a seleção peruana ganhou em infiltração. Tinha uma arma a mais para os contra-ataques, mas deixou de ter alguém dominante no jogo aéreo. Assim, as saídas da defesa para o ataque precisaram ser modificadas. Já não adiantava esticar a bola contando com o pivô de Guerrero, mas os passes em profundidade ganharam maior relevância para explorar as costas dos zagueiros adversários.

Ruidíaz é outra opção para a função de 9 e chegou a jogar até junto com Farfán, como no segundo jogo contra a Nova Zelândia. O funcionamento coletivo passa muito pelos meias abertos. Carrillo e Edison Flores são peças importantes e que definem a estratégia de Gareca. Fecham a linha de marcação pelos lados, saem em velocidade e pressionam sem bola no campo de ataque.

As dobradinhas pelos lados viram o termômetro das atuações, e com características diferentes de acordo com as combinações. Na direita, Advíncula tem muita força física. Na esquerda, Trauco tem bom apoio e é importante na construção, além de gerar perigo através de seus cruzamentos. Flores tem facilidade para atuar pelos dois lados, embora sempre jogue na esquerda no Aalborg, seja como meia ou ala. Canhoto, trabalha no futebol dinamarquês com a função de chegar ao fundo e cruzar. Sem uma referência na área, também virou alternativa partindo da direita para centralizar e se associar com os meio-campistas, deixando Carrillo atacar a ponta no setor que já conta com as triangulações de Trauco, Yotún e Cueva.

Com o retorno de Guerrero, sua velocidade para chegar no fundo faz da esquerda o lado mais forte da equipe. Toda a construção costuma partir de lá, com a aceleração de Carrillo para finalizar no lado oposto. No período em que a ligação direta já não era tão eficiente, a saída por baixo evoluiu consideravelmente. Exemplo disso foi o belo gol marcado na ótima vitória sobre a Croácia, em março.

E aí entra a responsabilidade do jogador do São Paulo. É quem tem o passe mais qualificado e pode gerar as triangulações, explorando as costas dos volantes adversários. Os amistosos de 2018 foram animadores. A agressividade com e sem a bola gerou boas vitórias contra Islândia e Croácia. Especialmente contra a Croácia, o Peru apresentou um bom futebol, forçou erros com a marcação adiantada e criou ótimas jogadas a partir da saída rápida com
passes curtos.

Além do otimismo gerado pelo resgate de Guerrero, os números recentes permitem certo otimismo. O ano de 2017 terminou com uma relevante invencibilidade nos 10 jogos disputados, com vitória sobre o Uruguai e empates com Argentina e Colômbia. Em um grupo com França, Dinamarca e Austrália, é possível acreditar na briga por uma vaga no mata-mata. Para isso, precisará superar os possíveis problemas nas bolas paradas defensivas contra a Austrália e terá uma decisão contra a Dinamarca. Entre as seleções menos badaladas, o Peru talvez seja aquela que mais evoluiu ao longo do ciclo. 

Jogos no Grupo C
​16/6 - 13h - Peru x Dinamarca
​21/6 - 12h - França x Peru
​26/6 - 11h - Austrália x Peru

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