Campeã do mundo em 2014, a Alemanha chega a 2018 como uma das principais favoritas ao título. Foram quatro anos desenvolvendo novas opções e fechar uma lista com 23 foi um dos grandes desafios de Joachim Löw. Em um trabalho de 12 anos de duração, o treinador se acostumou a promover constantes renovações. O grupo de 2014 já sofreu consideráveis transformações e o vestibular da Copa das Confederações de 2017 ampliou o leque de opções. O LANCE! publica nesta segunda mais um capítulo da série Copa Tática, com análises diárias das 32 seleções até 13 de junho - clique no fim do texto e veja também como jogam os outros três times do Grupo F: México, Suécia e Coreia do Sul.
A Alemanha tem mais repertório do que os principais rivais. Varia com facilidade entre linhas de quarto e cinco na defesa, sem abrir mão do controle da posse de bola e da construção de jogo. Se Toni Kroos é um ponto central para direcionar o time, Joshua Kimmich foi quem mais cresceu ao longo do ciclo. O meio-campista se consolidou como lateral e, além da capacidade para distribuir, é uma enorme ameaça com a qualidade dos cruzamentos e lançamentos. A versatilidade permite que Löw possa montar o time de diferentes formas. Kimmich pode ser um lateral mais fixo para distribuir o jogo recuado, pode ter liberdade para buscar a linha de fundo e cruzar, e pode até atuar como zagueiro pela direita em um eventual trio de defesa para cenários em que pretende dominar completamente a posse de bola contra adversários inferiores. Nas eliminatórias, o técnico chegou a utilizar Kimmich próximo de Hummels, Boateng ou Rüdiger (todos zagueiros de bom passe), soltando Brandt e Sané nos corredores, e acrescentando a chegada de Thomas Müller como meio-campista que ataca a área para finalizar de frente. Nesse sistema, Kimmich e Kroos assumem o controle na faixa central, enquanto outros seis jogadores agridem o terço final.
Se Kroos e Kimmich podem ser termômetros, a escolha do outro meio-campista é determinante para entender a estratégia. São muitas opções de características diferentes. Khedira oferece força física na ocupação de espaço, infiltração e marcação mais agressiva, enquanto Gündogan tem melhor passe para auxiliar na iniciação das jogadas, embora tenha se tornado um jogador mais de definição no Manchester City. Goretzka é outro que pode ganhar espaço, especialmente pelo que mostrou na Copa das Confederações. Velhos conhecidos, Özil e Thomas Müller seguem como referências da equipe considerada base.
As novidades estão no complemento do setor ofensivo. Draxler foi titular ao longo das eliminatórias e rendeu bem como meia pela esquerda. No ataque, Timo Werner é um especialista em transições. Se a seleção conseguir acelerar o suficiente para acionar o atacante do Leipzig em velocidade ou nas costas da defesa adversária, a chance de gerar gols é enorme. O desafio para ele já é manter a mesma produtividade em partidas com 60 ou 70% de posse, contra defesas fechadas na própria área. Outra grande notícia é a presença de Marco Reus. Após sofrer com lesões que o deixaram de fora da Copa de 2014 e da Euro 2016, voltou a ter alguma sequência no Borussia Dortmund e, em forma, é uma ótima arma para modificar os jogos, podendo atuar pelas pontas ou por dentro, encostando no atacante.
Até por isso, a Alemanha parece uma seleção bastante madura. Já são anos jogando com o mesmo modelo. Apesar de atuações e resultados não tão empolgantes em amistosos, na hora do "vamos ver", em competições oficiais, o país sempre foi bem. Nas eliminatórias, os 43 gols marcados em 10 partidas mostram o tamanho do poderio ofensivo. Sabendo que os adversários geralmente se fecharão, a Alemanha trabalhou algumas alternativas. Caso precise adotar uma presença mais física na área, Mario Gomez ganhou a disputa com Sandro Wagner e Nils Petersen para ser a opção de centroavante. São muitos os gols a partir da aceleração nas pontas, com cruzamentos rasteiros para a entrada da área, no espaço atacado pelos meias que chegam de frente. As inversões de Kimmich merecem atenção especial, pois sua precisão faz com que, diversas vezes, a bola saia da meia pela direita para a ponta esquerda, deslocando a defesa adversária e ganhando tempo suficiente para o ponta rolar para alguém finalizar na pequena área.
A maior surpresa foi a não convocação de Leroy Sané, que fez grande Premier League 2017/18 e acrescentaria drible em velocidade pela ponta, uma característica que nem o time campeão do mundo em 2014 tinha. Por mais que Löw trabalhe com os meias abertos centralizando, o que beneficia Draxler, o jogador do Manchester City seria uma importante alternativa justamente por oferecer características diferentes. Fundamental no título inglês na última temporada, sua aceleração era chave para abrir linhas defensivas e ganhar duelos com sua habilidade. Julian Brandt, que ficou entre os 23, trabalhou mais vezes por dentro no Bayer Leverkusen e tem explosão nas arrancadas, mas vira uma aposta pessoal do treinador, já que ainda não alcançou o mesmo nível.
A principal preocupação está no gol. Manuel Neuer perdeu toda a temporada por lesão, mas a comissão técnica acredita que o goleiro terá condições de jogar na Rússia. A decisão não é tão simples, já que a falta de ritmo é um fator de risco para uma das maiores estrelas da posição. Além disso, Ter Stegen fez grande ano no Barcelona e poderia assumir a titularidade sem problemas.
Ainda no setor defensivo, a reta final de temporada da dupla de zaga do Bayern gera algumas dúvidas sobre o nível recente de Hummels e Boateng. Dois excelentes zagueiros, mas que não estiveram na melhor forma física e técnica. Possuem grande qualidade de passe para fazer a saída de bola e quebrar linhas de marcação, mas passaram alguma insegurança exatamente na parte defensiva, especialmente quando exigidos em velocidade, tendo que cobrir uma faixa grande de campo, já que atuam bem adiantados. Curiosamente, o reserva Süle foi quem terminou a temporada deixando melhor impressão pelo Bayern.
Se existe uma seleção 100% adaptada a um modelo de jogo e com tempo de sobras para saber o que o treinador quer, certamente ela é a Alemanha. Após mais de uma década de trabalho, Joachim Löw carrega uma enorme expectativa para a Rússia. Nomes como Schweinsteiger, Lahm e Klose já não fazem mais parte do grupo, mas o elenco talvez seja ainda mais forte e equilibrado do que o de 2014. Estabilidade no comando não é novidade para a Alemanha. Basta lembrar que Löw é apenas o décimo treinador do país em mais de 90 anos de história da seleção.
Jogos no Grupo F
17/6 - 12h - Alemanha x México
23/6 - 15h - Alemanha x Suécia
27/6 - 11h - Coreia do Sul x Alemanha
Veja a tabela completa e simule os jogos
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